castelos medievais

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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

PRESIDENTE BERNARDES (MG) QUER TROCAR DE NOME




Presidente Bernardes  (MG) – De Calambau a Presidente Bernardes, há um caminho pavimentado por polêmica e histórias que atravessa quase seis décadas e, pelo andar da carruagem, promete render ainda muita discussão. Quem viver verá – e muita gente, principalmente aqueles com mais de 50 anos, sabe que o assunto divide, comove e não deixa ninguém indiferente, nem mesmo os jovens. O município de 5,8 mil habitantes, na Zona da Mata, nasceu no século 18 como Calambau – na língua dos índios puris, “lugar onde o mato é ralo e o rio faz a curva”, em referência ao Rio Piranga, afluente do Rio Doce. O tempo passou até que, em 1953, por lei, o antigo distrito se emancipou de Piranga e ganhou o nome do presidente da República Artur Bernardes (1875-1955), mineiro de Viçosa, que ocupou o cargo entre 1922 e 1926. Na década de 1980, voltou a ser Calambau e depois Presidente Bernardes. Pensa que acabou? Nada disso. Agora está em curso na cidade um movimento para que seja feito um plebiscito a fim de restaurar Calambau como nome oficial.

O aposentado Murilo Vidigal Carneiro, de 70 anos, é um dos entusiastas da mudança de nome, certo de que Calambau, localizada no circuito da Estrada Real, traduz bem a história do município. Guardião da memória local, ele pesquisa documentos, recortes de jornais e os livros Calambau – A recuperação do antigo topônimo e Os antepassados – A sua terra, de autoria de Pedro Maciel Vidigal (1909-2005), que foi padre, integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e depois deputado federal. “Eu nasci em Calambau (1941), me casei em Presidente Bernardes (1954) e fui gerente da Minascaixa (1986) em Calambau”, conta Murilo, mostrando a placa do jipe que tinha quando a cidade voltou ao nome primitivo.

“O melhor jeito de saber se a população quer a mudança é fazendo o plebiscito”, diz Murilo, ao lado do amigo, o artista plástico José Maria Carneiro Neto, de 55, outro defensor ferrenho da volta para Calambau. Os dois se animam ao ver o andamento da enquete feita pelo site www.calambaupb.webnode.com.br, criado pelo adolescente Jean Paulo Oliveira, de 16. No último placar, Calambau estava com 162 votos e Presidente Bernardes, 45. “Há um apoio grande especialmente dos jovens”, orgulha-se Murilo. José Maria criou para o endereço eletrônico um lema que traduz bem o clima de “campanha”: ”Ser calambauense é ter berço diferente, recordar o passado, acreditar no futuro e viver o presente.” Os partidários da mudança vão procurar a Câmara Municipal, no ano que vem, e apresentarão o resultado da enquete. O presidente eleito do Legislativo municipal, José Maria Guimarães (PT), aprova de antemão a ideia de um plebiscito.

HISTÓRIA

Na sala de sua casa, ao lado da Matriz de Santo Antônio, na Praça Cônego Lopes, Murilo conta a história das mudanças de nome. Os primeiros registros datam do início do século 18, antes de 1710, quando bandeirantes paulistas, tendo à frente João de Siqueira Afonso, de Taubaté, chegaram à localidade chamada pelos índios de Calambau – ou Calambao (na grafia antiga). A Lei nº 1.039, de 12 de dezembro de 1953, criou o município de Presidente Bernardes, emancipado, então, de Piranga. A mudança em 1954 foi por motivos políticos e recebeu até críticas do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Ele escreveu: “Estava a cidade de Calambau posta em sossego, quando um deputado perrista (do antigo Partido Republicano/PR) reparou em seu saboroso nome e achou-o feio; o senso estético revoltou-se e, unido ao senso cívico, (esta mistura é rara), redigiu logo um projeto-de-lei nos seguintes termos: Artigo único – Calambau passa a chamar-se Presidente Bernardes”.

Em 14 de janeiro de 1954, Drummond voltou a atacar: “O passado vale mil vezes o presente, o qual só valerá alguma cousa (sic) daqui a mil anos, e olhe lá. Os nomes das cidades, feios ou bonitos, deviam ser tombados para sempre pelo Patrimônio Histórico, e punido com pena de morte quem ousasse trocá-los. Não troquem os nomes. Não adianta nada à glória dos sujeitos e gera na alma de cada munícipe um profundo, irreparável desgosto”.

Segundo a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, coordenadora do Grupo Mineiro de Estudos do Léxico, os topônimos (nomes das cidades) confirmam a tese de que a história das palavras caminha muito próxima da vida do grupo que dela faz uso. Essa é a razão pela qual a atribuição de um nome a um lugar envolve fatores linguísticos, étnicos, socioculturais, históricos e ideológicos. “O topônimo é um patrimônio e deve ser preservado. Muitas vezes, fazem a troca numa situação meramente política”, afirma.

Discussão está nas ruas

Basta caminhar pelas ruas da cidade para ver que a disputa entre calambauenses e bernardenses deixa muita gente irritada, com os nervos à flor da pele mesmo. Na Praça Cônego Lopes, em frente à matriz, um comerciante, nervoso, não quer muita conversa. “Sou Presidente Bernardes, uai. É só isso! Calambau…”, esbraveja. Outros lojistas preferem não se pronunciar, alegando que a polêmica resvala para disputa política. Diante do retrato em homenagem ao ex-presidente, o motorista José Arlindo Braz, de 26, afirma, com simpatia, que “Calambau é um nome do tempo dos antigos. Presidente Bernardes combina mais com a cidade”.

Sentadas na tarde calma, no banco da praça, as amigas e estudantes Solange de Lana Bernardo, de 17, e Letícia Aparecida Badaró, de 17, votariam em Calambau, caso fosse feito o plebiscito. “O povo já trata a cidade de Calambau, então fica muito mais fácil chamá-la assim”, comenta Solange, enquanto Letícia lembra que há outra cidade com o nome atual, em São Paulo. A questão se tornou tão curiosa que muitos moradores resolveram juntar as partes e criar “Presidente Calambau”. É dessa forma, bem-humorada e carinhosa, que a professora aposentada Rita do Rosário Pompéia Soares Quintão, de 58, chama a sua cidade, tendo em vista os laços familiares, cada lado com uma ideia. “Mas acho Calambau bem mais bonito”, confessa.

Entenda o caso

Século 18 - Antes de 1710, bandeirantes paulistas, tendo à frente João de Siqueira Afonso, de Taubaté, chegam à localidade chamada pelos índios puris de Calambau – ou Calambao (na grafia antiga)

1953 - Lei nº 1.039, de 12 de dezembro, cria o município de Presidente Bernardes,
em substituição a Calambau, que pertencia a Piranga

1954 - Em 31 de janeiro, é instalado oficialmente o município de Presidente Bernardes

1986 - Em 1º de janeiro, pela lei municipal nº 354/85, Presidente Bernardes volta a se chamar Calambau. Vereadores se baseiam no decreto-lei federal 5.001/1943, que impede duas cidades brasileiras de terem o mesmo nome – a outra fica em São Paulo, criada em 1925

1988 - O Executivo municipal aprova lei alterando novamente o nome para Presidente Bernardes. Mudança do topônimo é aprovada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais

2011 - Moradores iniciam movimento, no boca a boca e pela internet, para que Calambau volte a ser o nome do município. Objetivo é fazer plebiscito para população decidir

Um comentário:

  1. Vocês ficam perdendo tempo querendo mudar o NOME da cidade!!! isso é o de menos, PRESIDENTE BERNARDES ja é o nome e pronto.
    Ficam colocando essa pilha apenas para ego politico
    Deveriamos nos preocupar é com a qualidade de vida da populaçao e apresentarmos projetos que visem ocupar a cabeça dos jovens e crianças com coisas boas que estimule o aprendizado e isso teria que vir mesmo de nós moradores pois se dependermos dos vereadores e prefeitos sejam eles de qual partido são estaremos perdidos.
    Infelizmente as drogas ja sao uma realidade em nossa regiao e o culto à vagabundagem so aumentam pois a cidade nao oferece nada aos nossos jovens.
    Entao Murilo acho que antes de nos preocupar em mudar o nome da nossa cidade (se é que isso é necessário), deveríamos cuidar dos nossos moradores e incentivá-los quanto a seus talentos e a acreditar em seus objetivos.
    Ja basta a rincha eleitoral desgastante que existe na nossa região, agora você está prestes a criar mais uma, será que isso realmente é necessário?

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